Cientistas criam tecido cerebral com células estaminais

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Cientistas criam tecido cerebral com células estaminais


Cientistas anunciaram hoje ter usado células estaminais para produzir tecido cerebral humano com o objetivo de utilizar no estudo de doenças e do desenvolvimento inicial cerebral.

Utilizaram as células estaminais para criar aquilo a que chamaram “organoides cerebrais” – pequenas gotas de tecido cerebral em três dimensões numa placa de Petri, com características do tecido cerebral embriónico inicial.

Este gigantesco avanço poderá reduzir a dependência dos cientistas relativamente ao cérebro dos ratos, que é o atual modelo, apesar de pobre, para investigação de doenças humanas e respetivos tratamentos, escreveu a equipa de investigador hoje na revista Nature.

“O desenvolvimento do cérebro humano é muito diferente do desenvolvimento, por exemplo, do cérebro do rato”, disse o coordenador do estudo, Juergen Knoblich, da Academia das Ciências Austríaca, numa conferência de imprensa.

A tecnologia deverá ajudar os biólogos e neurocientistas a estudar características “especificamente humanas” do desenvolvimento e doenças do cérebro humano, acrescentou. Espera-se também que este método permita aos investigadores “testar medicamentos diretamente num cenário humano e, assim, evitar experiências em animais e obter melhores resultados que sejam mais facilmente transferíveis para pacientes humanos”, referiu Knoblich.

Os investigadores da área das células estaminais fizeram progressos ao criarem tecido em três dimensões de outros órgãos humanos, incluindo o coração e o fígado, mas o cérebro permanecia oculto. A equipa de Knoblich utilizou células estaminais pluripotentes, que podem ser impelidas a transformar-se em qualquer tipo de célula do corpo, para criar células neuronais que se “auto-organizaram” em organoides com até quatro milímetros de tamanho. 

Estes sobreviveram durante vários meses num bio-reactor giratório. “O sistema de cultura em três dimensões desenvolve uma variedade de regiões cerebrais que são capazes de se influenciar mutuamente”, diz o sumário do estudo. “Os tecidos formam-se em camadas e apresentam uma organização semelhante à das primeiras fases do desenvolvimento de um cérebro humano”, acrescentaram os cientistas.

As células neuronais estavam “ativas”, de acordo com Knoblich. “Estas estruturas não são apenas objetos laboratoriais peculiares”, declarou Oliver Bruestle, do Centro Vida e Cérebro da Universidade de Bona, num comentário ao estudo.

“Os organoides recriam os passos iniciais da formação do córtex cerebral do cérebro humano e, por isso se prestam a estudos sobre o desenvolvimento cerebral e doenças neurodegenerativas”, observou. Mas apesar do seu extraordinário potencial, Bruestle considerou que o sonho científico de criar “um cérebro numa placa” permanece inalcançável atualmenet.

Os organoides que mimetizam as diferentes regiões do cérebro foram aleatoriamente distribuídos e falta-lhes a forma e a organização no espaço do cérebro humano. Como não têm sistema circulatório, o fornecimento de nutrientes e oxigénio é restrito, o que significa que os organoides só podem crescer até poucos milímetros de tamanho.

“Mesmo assim, o seu núcleo representa uma zona morta de células privadas de oxigénio e nutrientes”, sustentou Bruestle. Knoblich declarou que o método nunca se destinou a ser utilizado para produzir peças suplentes para um cérebro humano danificado e expressou dúvidas sobre se alguma vez poderá ser usado para esse propósito, tendo em conta a complexidade estrutural do cérebro.

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