Escândalo FIFA: A complicada ciência da corrupção

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Escândalo FIFA: A complicada ciência da corrupção

O mundo do futebol está em alvoroço com as alegações de que funcionários da FIFA estão envolvidos em extorsão, lavagem de dinheiro e outras atividades criminosas.



Os funcionários da FIFA estão envolvidos num "regime de 24 anos para enriquecerem através da corrupção do futebol internacional", segundo um comunicado divulgado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos a 27 de maio.

Mas, embora seja tentador culpar tais atividades, a pesquisa mostra que a corrupção - ou o abuso de poder em benefício pessoal - é muito mais complicada do que aparenta, afirma Marina Zaloznaya, professora assistente de sociologia na Universidade de Iowa, nos EUA.

A corrupção pode abranger grandes grupos - tais como organizações, ou até mesmo populações de nações inteiras - se a maioria das pessoas dentro das organizações descobrirem que o suborno e outras formas de corrupção são comuns, acredita Zaloznaya.

As organizações com corrupção generalizada geralmente desenvolvem culturas que justificam e incentivam a corrupção, tanto que a corrupção se torna rotineira e não é vista como uma ofensa, afirma ainda Zaloznaya.

"Simplesmente, no curso da vida organizacional cotidiana, os membros da organização são mais propensos a fazer o que os outros ao seu redor consideram normal e justificado do que o que eles pessoalmente praticam ou acreditam ser normal fora das organizações", disse Zaloznaya em entrevista ao Livescience.

Não importa que tipo de moral ou qual a personalidade de uma pessoa: "Qualquer um pode fazê-lo, se acontecer ser influenciado pelo tipo errado de cultura organizacional, especialmente um com regulamentações frouxas", acrescentou ainda a pesquisadora.

Ingredientes de corrupção


Há muitas facetas de uma organização que podem levar à corrupção, mas Zaloznaya foca três mais importantes. Primeiro, as pessoas podem perceber que há uma "necessidade" de se envolver em corrupção. Por exemplo, os baixos salários ou a burocracia podem criar uma percepção de que aceitar ou dar subornos é necessário para fazer face às despesas, ou para fazer as coisas dentro da organização.

Em segundo lugar, as pessoas tendem a envolver-se em corrupção se não acharem que vão ser presas e punidas, ou se acharem que as punições serão leves. Finalmente, a corrupção é influenciada pela cultura de uma organização. Quando a corrupção se torna institucionalizada e familiar, as pessoas estão mais propensas a participar em intercâmbios ilícitos, acredita Zaloznaya.

Christopher Yenkey, professor assistente de organizações e estratégia na Universidade de Chicago, disse que as alegações de fato fazem parecer que a corrupção é aceite na cultura da FIFA. Yenkey apontou para o exemplo de Chuck Blazer, um ex-oficial da FIFA e da Concacaf, um grupo governante que supervisiona o futebol na América do Norte, América Central e Caribe, que se declarou culpado em 2013 de estar envolvido em extorsão, fraude eletrónica, lavagem de dinheiro e sonegação de imposto de renda, de acordo com o The New York Times.

Fixação e prevenção da corrupção


Uma vez que a corrupção está enraizada como uma prática comum, pode ser incrivelmente difícil de corrigir, disse Ifeoma Ajunwa, professor de Direito na Universidade de Columbia, nos EUA. É por isso que a prevenção é importante. "A transparência é fundamental", disse Ajunwa. As instituições podem tentar prevenir a corrupção ao "projetar a organização de tal forma que todas as transações sejam feitas a céu aberto e com supervisão adequada".

Além disso, as organizações podem dar aulas que ensinam ética nos negócios e as políticas de combate à corrupção, disse Ajunwa. Para parar a corrupção, uma vez que a mesma tenha iniciado, as organizações têm de mudar toda a sua cultura, disseram especialistas. "Um esforço concertado para criar um ambiente que desestimula a corrupção e define-a como inaceitável, inviável e repreensível, é o que é necessário para parar a corrupção", disse Zaloznaya. [Livescience]
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  1. É por isso que a prevenção é importante. "A transparência é fundamental", disse Ajunwa

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